A inconstância da fé

A fé, todos nós sabemos, é fundamental para a vida do ser humano. Sem confiança, convicção e certeza de coisas que ainda não vemos (Hb 11.1), nossa vida ficaria sem sentido, sem propósito, e ficaríamos paralisados no tempo e no espaço. É ela, a fé, que nos motiva e nos move, acende a esperança e nos faz andar na direção de promessas ainda não alcançadas.

Pode ser muita ou pouca. Pode ser inconstante e variável. Quando fica difícil manter a “integridade de coração” e a “sinceridade”, também fica difícil de guardar os mandamentos, estatutos e juízos que acompanham essa fé (1 Rs 9.4). Muitas catástrofes e desgraças pessoais, na Bíblia, são interpretadas como resultado desse tipo de dúvida e infidelidade. A desgraça pessoal de Salomão e do seu reinado, foi atribuída à sua infidelidade, conforme está escrito: Porque Salomão me deixou e se encurvou a Asterote, deusa dos sidônios, a Quemos, deus de Moabe, e a Milcom, deus dos filhos de Amon; e não andou nos meus caminhos…” (1 Rs 11.33).

Ou seja, a fidelidade ao seu Deus dá acesso às suas promessas. A infidelidade ao seu Deus, por outro lado, traz a desgraça. Entre um e outro extremo, o ser humano vem fazendo história. A luta dos homens é também a luta dos seus deuses. Muitas vezes, os interesses estão tão entrelaçados, que não sabemos quando ele está servindo a si mesmo ou a seu Deus. Na inconstância da fé, muitas, vezes, o ser humano não sabe bem a que Deus está servindo.

É disso que fala um dos primeiros grandes profetas de Javé, Deus Libertador. Pela boca de Elias, ele falou ao seu povo: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor (Javé) é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu.” (1 Rs 18.21). Nessa linha, diz Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). Saberíamos nós, hoje, responder claramente a que Deus servimos ou também ficaríamos em silêncio?

Há momentos na vida em que temos a sensação de estarmos bem próximos de Deus: um abraço amigo, um socorro na necessidade, uma música inspiradora, uma linda paisagem, uma poesia, um consolo no sofrimento, o silêncio. Sem hora marcada, tudo parece claro. A vida faz sentido. Outras vezes tudo parece como num espelho embaçado, obscuro e incerto.

No afã de conhecer a Deus, Filipe, um dos discípulos, pede a Jesus: “— Senhor, mostre-nos o Pai, e assim não precisaremos de mais nada.” A resposta que ele ouviu foi a seguinte: “Quem me vê vê também o Pai” (João 14.9). De acordo com a fé cristã, Deus pode ser visto, agora, na sua plena humanidade e plena divindade, em Cristo Jesus. Não é mais preciso olhar para as alturas. Deus pode ser encontrado bem próximo. Ele é “Emanuel”, Deus conosco, nas alegrias e tristezas da vida.

Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, que viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial, inclusive na prisão, escreveu: “Deus, pregado na cruz, permite que o expulsem do mundo. Deus é impotente e fraco no mundo, e somente assim Deus está conosco e nos ajuda. Somente um Deus que sofre pode nos ajudar.” (Resistência e Submissão. Ariel, 1971. P. 210ss) A aparente loucura e fraqueza de Deus, contém mais sabedoria e força do que os seres humanos (1 Co 1.25).

O lugar de Deus é junto aos aflitos e sofridos. É dele que todos recebem ajuda: “Ele nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos. E nós damos aos outros a mesma ajuda que recebemos de Deus.” (2 Coríntios 1.4) Esse é o caminho de Jesus. Por ele chegamos ao encontro com Deus, o Pai.

 

Pastor Luis Henrique Sievers

Lajeado – RS

Comments are closed.