“Como será o amanhã?”

“Como será o amanhã? Responda quem puder.” Assim indaga o samba enredo da União da Ilha do Governador, de 1978. Como resposta, diz: “O que irá me acontecer, o meu destino será como Deus quiser.” Guardadas as devidas proporções de contexto, no presente também estamos preocupados com o futuro. Do meio da pandemia do Covid-19, com certa ansiedade, olhamos para o horizonte e nos perguntamos: O que irá nos acontecer? Como será o novo normal? Falando da ansiedade pelo amanhã, certa vez Jesus disse aos seus: “O dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades” (Mateus 6.34).

O ditado latino diz “carpe diem”, aproveita o dia, desfruta o presente. No presente, no entanto, fomos colocados numa situação nova, inusitada e até indesejada. Mesmo as autoridades públicas de saúde, que nos orientam nessa hora, estão passando por isso pela primeira vez. Todos nós nos encontramos na condição aprendizes. Estamos em busca de um equilíbrio entre nossa expectativa pelo amanhã e nossa situação presente.

Anthony de Mello, no seu livro “Por que o pássaro canta?”, relata pequenas histórias de sabedoria, colhidas entre o oriente e o ocidente. Uma delas, pergunta pelo sentido das vivências. Depois de muito ponderar, um aluno tomou coragem e foi conversar com o seu professor e mestre. Disse: “Vocês nos contam histórias, algumas bonitas e outras trágicas, mas nunca nos revelam o seu significado.” Ao que o mestre então respondeu: “Como é que você se sentiria se alguém lhe oferecesse um pedaço de fruta já mastigado?” E complementou: “Ninguém pode tirar de vocês, alunos, a busca pelo significado que uma história tem, nem mesmo o mestre.”

Eis o desafio. Temos que procurar pelo significado dessa história pela qual estamos passando. Podemos buscar juntos. Mesmo assim, o sentido será diferente para cada um de nós. Pois estamos vivendo essa história da pandemia do coronavírus de lugares e em condições bem diferentes. Não tem mestre para nos explicar o sentido, para nos dar a fruta mastigada. Somos todos aprendizes.

Se você me perguntasse o que caracteriza um aprendiz, eu responderia: a humildade. Humildade não é humilhação. Mas é o reconhecimento das nossas fraquezas e limitações diante das situações em que a vida nos coloca. Em diversas oportunidades, o próprio Jesus se portou como aprendiz. Ele disse: “Aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso” (Mateus 11.29).

Bondade e humildade sejam presentes na vida de cada um de nós, aprendizes, enquanto procuramos o equilíbrio entre o presente e o futuro, que virá; e enquanto buscamos o sentido das coisas que vivemos. “Como será o amanhã?” Ninguém pode responder com certeza absoluta. Deixemos que a curva do rio nos revele.

Pastor Luis Henrique Sievers

Maio de 2020

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