Logotipo

Siga-nos nas redes sociais:

 

Mensagem do Pastor Luis Henrique Sievers - 03/2018

Sofrimento faz sentido?

 

Sofrimento ninguém procura. No entanto, é difícil, quase impossível, achar alguém que não tenha passado por momentos de sofrimento. Por mais que se tente evitar, ele vem inesperada e sorrateiramente. Dói no corpo e dói na alma, tanto, que pode levar uma pessoa ao desespero. Algumas vezes conhecemos as suas origens e, outras vezes, nem fazemos ideia. Ele tem muitas formas. Algumas conseguimos aguentar e outras não. 

O período cristão da Quaresma fala justamente do sofrimento de vários personagens bíblicos e do povo de fé. Embora soe, no mínimo, estranho para os nossos dias, biblicamente falando há sofrimentos que fazem sentido. Tentando consolar pequenas comunidades cristãs perseguidas, Pedro afirma: “É melhor sofrer por fazer o bem, se for esta a vontade de Deus, do que por fazer o mal” (1 Pedro 3.17). Mesmo uma pessoa cristã não está vacinada contra o sofrimento.

Para não errar na interpretação, é bom lembrar que Deus quer o bem das pessoas e de toda a sua criação. Seu propósito não é fazer as pessoas ou a natureza sofrerem. Mas há momentos na vida que o sofrimento vem mesmo para quem procura fazer o bem. Também é verdade que nem sempre o que uma pessoa acha que é certo e bom confere com a vontade de Deus. Por fim, o sofrimento não faz distinção, cai tanto sobre os bons quanto sobre os maus. Quaresma é um período que desafia a pessoa de fé a procurar pelo sentido, pelo motivo, do seu sofrimento. Pedro está convencido que “é melhor sofrer por fazer o bem”. Quando as razões do sofrimento está na prática do bem, então vale a pena, embora a gente não busque e não queira sofrer. 

Dentro deste contexto, compreendemos melhor os sofrimentos de Jesus: “Um homem bom em favor dos maus, para levar vocês a Deus”, escreve Pedro para as comunidades perseguidas. Jesus tinha consciência que isso era uma reação em consequência da sua maneira de viver junto aos necessitados e excluídos. Seus ensinamentos incomodavam as autoridades da época. Quanto mais se aproximava de Jerusalém, mais perto sentia estar o cálice amargo. Embora tenha pedido ao Pai para afastá-lo desse sofrimento, estava disposto a assumir o risco, fazendo a vontade de Deus até o final. Jesus tinha certeza que até na morte teria a companhia de Deus. Nela não ficaria. Disso ele tinha certeza. 

O sofrimento, muitas vezes, é uma espécie de “efeito colateral” na vida de quem segue a Jesus. “Tomar a sua cruz” significa assumir as consequências de fazer a vontade de Deus neste mundo. O cristão não é uma pessoa masoquista, que está em busca do sofrimento para o seu prazer. De jeito nenhum! Mas também não se nega a enfrentar as consequências de fazer o bem, de fazer a vontade de Deus. Quem espera passar por esta vida sem uma dose de dor e sofrimento está apenas preocupado consigo mesmo. Não cogita das coisas de Deus, diz Jesus (Marcos 8.31-38).

Fazer o bem significa também um ato de renúncia. Nas palavras de Pedro: “Abandonem tudo que é mau, toda mentira, fingimento, inveja e críticas injustas. Sejam como criancinhas recém-nascidas, desejando o puro leite espiritual, para que, bebendo dele, vocês possam crescer e ser salvos.” (1 Pedro 2.1-2) Mudanças para o bem levam ao crescimento da pessoa. Ela experimenta libertação. 

Celebrar a Quaresma hoje significa parar para pensar nos desertos da nossa vida e seus sofrimentos: solidão, angústia, discriminação, violência. Ela quer nos lembrar que o novo, o bem, não vem sem esforço, sem uma dose de sofrimento que faz sentido.

P. Luis Henrique Sievers

 

Pastorado Escolar CSGA