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Mensagem do Pastor Luis Henrique Sievers - 22/12/2016

O advento de líderes que cuidam

O Advento de 2016 está marcado por uma crise de liderança e de autoridade no Brasil. Como nunca antes, os escândalos de corrupção e o uso do cargo para benefício próprio têm abalado profundamente a confiança da população nos gestores públicos, de todos os escalões e poderes da República. O marketing político forja líderes maquiados pela propaganda e pela imagem. Depois de eleitos, a máscara cai. É difícil reconhecer aquela pessoa em quem votamos.

Crescem os discursos de intolerância e de discriminação em relação às minorias. Líderes populistas de todas as tendências tentam arrastar a opinião pública para o seu lado e capitalizar votos. Enfurecem os seus eleitores contra os seus adversários políticos. Perdemos o colorido das opiniões e a capacidade de diálogo entre as diferentes posições. Parece que só existem dois lados: o meu e o dos outros, sendo que o meu é o lado correto, claro. Assumimos uma linguagem dualista do bem e do mal. Naturalmente, sempre nos colocamos do lado do bem. Os diferentes de mim são do mal, lógico. Encontrar a verdade e o equilíbrio no meio de tanto ódio, rancor e disputas políticas é como encontrar a agulha em uma montanha de palha.

Este é um tempo de Advento diferente, de muitas incertezas e tênues esperanças, especialmente no âmbito político e econômico. Será possível encontrar “sinais de paz e de graça neste mundo que ainda é de Deus”? (Hino 165 HPD1)

É justamente em momentos como esses, que a palavra “advento” recupera seu sentido e sua capacidade transformadora. É tempo de levantar a cabeça e dirigir os olhos para o horizonte. Advento é tempo de renovar as esperanças em dias melhores. Deus mesmo dá motivos para isso: “Eu lhes darei líderes que cuidarão deles. Não ficarão mais com medo, nem apavorados, e nenhum deles se perderá. Eu, o Senhor, estou falando.” (Jeremias 23.4) São palavras dirigidas a um povo vivendo na escravidão do exílio babilônico. Um povo que reconhece que o seu sofrimento, em grande parte, está ligado a líderes que não cuidaram das necessidades do povo, mas dos seus próprios interesses e disputas políticas. Mas, em meio ao seu sofrimento, é convidado por Deus a olhar para o futuro com esperança e confiar no advento de novos tempos.

“Não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida para salvar muita gente”, diz Jesus a seus discípulos (Marcos 10.35-45). Servir é cuidar das outras pessoas. É diaconia. Autoridades são necessárias para conduzir os destinos de uma família, de uma comunidade, de um município, de um país e até do mundo. Jesus, no entanto, propõe um modelo diferente de exercício da autoridade: “Quem quiser ser importante, que sirva os outros”. Cuidado e atenção pela necessidade do próximo são qualidades que não podem faltar às lideranças.

Em termos bíblicos, a promessa de uma liderança cuidadora do povo se referia a um “rei”. Segundo Jeremias 23.5, ele será justo, sábio e honesto. Os cristãos reconheceram Jesus como esse rei tão aguardado. Mas, hoje, os tempos são outros. Não temos monarquia no Brasil. Vivemos em uma democracia. Conforme o parágrafo único do Art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”

Numa democracia, o povo exerce o seu poder por meio dos representantes eleitos por ele e/ou diretamente, através de um plebiscito, por exemplo. O voto, no entanto, faz com que as autoridades eleitas sejam uma espécie de espelho que reflete o que acontece entre nós. Isso significa que também nós temos responsabilidade pelo que está acontecendo em nosso país. Como diz o historiador da UNICAMP/SP, especialista em ética, Leandro Karnal, “Não existe país com governo corrupto e população honesta”. É preciso, portanto, lançar um olhar para nós mesmos. Nas palavras de Karnal: “Há um interesse coletivo sobre o tema atualmente. Mas, está faltando, além da crítica à falta de ética em Brasília e das grandes empreiteiras, que nós consigamos pensar na microfísica do poder, ou seja, na falta de ética na escola, nas famílias e nas empresas. Não existe país no mundo em que o governo seja corrupto e a população honesta e vice-versa” (Fonte: G1 PR, 13/05/2016) Karnal, com isso, atualiza uma frase do conde francês, Joseph-Marie de Maistre (1753-1821), que disse: “Toda nação tem o governo que merece".

“Advento é tempo de avaliação, de unir caminhos e acertar estradas. É tempo certo para pedir perdão e perdoar, seguindo de mãos dadas”, assim diz uma canção de advento muito conhecida. Avaliar também nossos caminhos, nossos comportamentos. Advento não é uma espera passiva. É um chamado para “abrir caminhos e aplainar estradas”. Um convite para preparar o novo a partir de nós mesmos. Afinal, queremos que se realize entre nós a promessa de Deus: “Não ficarão mais com medo, nem apavorados, e nenhum deles se perderá”.

 P. Luis Henrique Sievers